Exposição surrealista em Bilbao – Espanha

13 06 2008

 

casal

Nosso correspondente na Europa, Rodrigo Camilo, após anos de sua partida enviou seu primeiro material! Camilo, como é conhecido, é um guri de Ipaussu, ou seja, da minha terrinha. Diferentemente de mim, ele estudava e levava a sério o que aprendia na Etel. Resultado? Passou no vestibular da USP e algum tempo depois foi parar na França.

Mas vamos ao que interessa, a foto trata-se de um verdadeiro Dalí exposto em Bilbao, na Espanha durante uma fantástica mostra surrealista. A obra intitula-se Um casal com a cabeça cheia de nuvens e representa o artista e sua endeusada companheira Gala. A composição separada dos quadros (onde a paisagem parece ser a mesma) define a idéia de que os casais apesar de cada um ser um, estão sempre em sintonia, estão sempre unidos. Talvez, por acaso, essa seja a homenagem de Dalí aos casais, e aqui fica essa homenagem (atrasada) do Surrealismo do Acaso para todos aqueles que são uma só paisagem… 

P.s.: eu consegui perder a foto original…





Suprarealismo

13 06 2008

A origem da palavra surrealismo, melhor, a genealogia da palavra surrealismo é composta pela idéia da expansão da realidade no chamado mundo das artes. Na Romenia o surrealismo é chamado de suprarealism, não sei se a língua romena tem alguma coisa latina, mas no que tange ao surrealismo, sua significação, se levada ao pé da letra, nos conduz ao mesmo significado. Além do real…

Eu e você somos acostumados a vários tipos de coisas, nos familiarizamos com o cotidiano a ponto de aceitar todo tipo de coisa como normal ou mesmo como real. Vira e mexe com certeza você abre seu navegador e acessa algum site de notícias e lá está algo como: “Membro do RBD posa para revista gay mexicana” ou “Corintianos iniciam campanha no orkut para tirar o goleiro Felipe”. Daniel Cohn-Bendit (um “anarquista” metido a besta) disse em seu “O grande bazar” que quando a humanidade possuísse um mecanismo que os unisse diretamente sem que precisassem sair de suas casas a coisa seria diferente…

Ong´s são financiadas pelo governo, governos são moldados por Gno´s (Grupos nacionais oportunistas, mais conhecidos como Partidos), o governo financia os filmes, os filmes são contra o governo, metade dos brasileiros resolveu fechar os olhos, a outra adormeceu, televisão é cultura, novela uma cátedra e eu sozinho no dias dos namorados…





Poesia surrealista #2 – Salvador Dalí

12 06 2008

Gala,

não está incluída

no círculo

de meus objetos de relações

teu amor está de fora

das noções comparativas e mendicantes

dos sentimentos humanos

porque não tenho sentimento algum por ti

porque os sentimentos supõem a ausência do amor

ou sua fraqueza

e é de fora de todo sentimento

que a representação pura e única

dos meus desejos

me liga sem medo

as representações violentas de minha morte

e é ainda

fora dos sentimentos

que a representação pura e única

me faz entesar e descarregar

fora

imagens hipnagógicas suplementares

da masturbação

fora

da curva nostálgica

dos lugares-comuns perversos

fora dos relógios sensibilizáveis

por meio

de uma multidão de tinteiros

colocados em equilíbrio

ao longo de teu corpo alongado

sobre um travesseiro de algas marinhas

cor de merda

de fora

das estratificações mentais

que nascem

de origens hipoteticamente sensíveis

da fixação nacísica

de meus próprios cheiros

hierarquicamente

o cheiro dos meus pés

o cheiro do debaixo de meus colhões

o cheiro da minha glande

o cheiro das minhas axilas

o cheiro de minha própria merda

O AMOR E A MEMÓRIA (1931)

dali

Salvador Dalí – Seus poemas estão reunidos em La Femme Visible (1930) e L’amour et la Mémoire (1931).

Fonte: Os arcanos da poesia surrealista – Seleção de José Pierre e Jean Schuster com tradução de Antônio Houaiss. Editora Brasiliense.





Moda surrealista na História da Arte

5 06 2008

Trabalhos! A faculdade além de ser uma empresa adoradora da ‘Musa Extorsão’ costuma arrumar mil coisas pra fazer em fim de semestre. Não sei se isso faz parte dos dogmas ou parte do próprio corpo de seguidores remunerados por ela. Está certo que pela quantia cobrada, a cada ano mais exorbitante (isso que não faço medicina…), é primordial que estimulem os acadêmicos e mais, que os desafiem. É estranho mas de forma torta talvez o consigam (em parte). Estou com uma fileira de pastas aguardando organização, desenhos para pintar, aquarelar, roupas para fazer, desfile e o trabalho que mais tem me interessado é um de História da Arte. Bingo! Fazer uma composição baseada em um movimento artístico. Adivinha? Certo! Surrealismo.

Então o que vai ser? Ainda não tive um sonho inspirador (quem sabe Freud ajudaria) mas como ando devaneando de olhos abertos penso quem sabe fazer um vestido-tela-escultura misturando desenhos, bordados alguma coisa em papel machê saindo pelo ombro com a intenção de pegar alguém de assalto. (Ins)pirações, ainda preciso delas.

Isso ajuda? … Quem sabe isso?

O que sairia daquele ovo lá em cima?





Catatumba vazia, Amor de todas as vidas e só.

28 05 2008

Os ricos versos de Matajiradh foram para o movimento surrealista o que a democracia foi para a China. Nada. Ou quase nada. O autor de fábulas como ‘Chove leite dos vapores de mel no paraíso de Drhya’ e ‘O escorpião leva rosas na boca’ entre uma série de contos e poesias descansou a pena durante dez anos para se dedicar a desenhos e pinturas toscas que na essência guardam o teor puro do surrealismo mesmo muitos anos antes deste surgir e muito antes ainda do paranóico-crítico despontar como uma das expressões máximas de um dos ícones rejeitados do movimento.

Pouco restou do trabalho do autodidata Matajiradh que buscava em infindáveis fórmulas o sucesso sempre vão e escorregadio assim como sua vida nos idos de 1490, data aproximada em que os exíguos estudiosos da obra deste criativo sugerem que ele faleceu de causa misteriosa, tanto que seu corpo enterrado sem identificação nunca foi encontrado quando procurado dois anos após sua morte por um parente que morava em outra província do norte da atual região dos Países Baixos.

Pode ter notado que o nome Matajiradh aparenta influência indiana e tem. Na verdade consta no mesmo documento que cita a busca do referido parente (este não identificado e muito menos o grau de parentesco entre eles) que o verdadeiro nome do poeta-pintor era outro, de sobrenome desconhecido, apenas podendo ser identificado como Hari e que este adotou o nome Matajiradh depois de uma viagem empreendida da qual pouca ou nenhuma notícia se tem. O que vi em comentários feitos em um blog de um pesquisador da obra é que nesta viagem Hari teria conhecido um homem estrangeiro e travado grande amizade.

O conteúdo também deixa transparecer uma dúvida quanto ao sexo de Hari. Na verdade a dúvida surge porque o nome não seria Hari e sim Ari, uma corruptela de Ariadne e Matajiradh foi usado pelo poeta-pintor para assinar seus textos após essa viagem. Talvez essa amizade com o estrangeiro não tivesse sido assim só uma amizade, talvez um casamento. Mas como as mulheres geralmente foram discriminadas nestes períodos, as primeiras notícias que se tem dos estudos de Matajiradh consideram-no homem. Este artifício foi usado por outras mulheres na história e para minha infelicidade não surge nome nenhum no momento.

O fato que levou ao nascimento deste artigo foi a leitura de um fragmento de poesia que em tradução literal ficou com o seguinte título: Amor de todas as vidas – e cujo trecho está no final do artigo. O que me chamou mais atenção é que este contemporâneo de Hieronymus Bosch, que pode ter sido influenciado por este renascentista visionário, talvez e na minha opinião um dos mais puros surrealistas, e suas pinturas pouco apreciadas na época em que a arte de dissociava da igreja e o belo era exaltar o homem.

Amor de todas as vidas

Seguir-se ia o influxo da morte

no leito derramado de odores

enquanto belas viríeis, [são] as virtudes dos observadores

saberias entrar [?]

pétala amarela de flor

em teus cachos salutares

no peito que exibe o regaço da transfiguração

num ventre límpido que a memória ressuscita em sonhos

lugar [onde] o mais branco brilha entre carne e águas mornas

Na fronte dispõe os símbolos [do que] pensas natural

e são tão somente sinais do amor trazido de todas as vidas

que reconheceríeis em qualquer

E continua.

f.

Para entrar em contato: cristianefas@hotmail.com





Acasos

21 05 2008

Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento no sol de quase dezembro… Eu vou!

Eu não sou nenhum pouco fã do Veloso, pelo contrário. Mas esse pedaço de música é a materialização do acaso, é a explicação mais simples do acaso. A rotina é surda, embora os acasos sempre estejam presentes nela, só alguns tipos dele possuem o poder de se infiltrar nos nossos sentidos. A rotina é como o rio Tiête para os paulistanos, fede pra caralho mas eles não conseguem evitar passar por ele… Já o acaso é algo como uma nuvem cinza-escuro que, depois da trovada, faz descer a água mais limpa e clara que o planeta pode produzir. É como Voltaire diria: “Se não encontrarmos nada agradável, ao menos devemos encontrar algo novo”.

O acaso não quer ser percebido, ele é como um adolescente de 15 anos, sem casa nem família, cheio de espinhas na cara. Faz de tudo pra esconder aquilo que o torna especial, seja duma maneira boa ou ruim. Aqueles que entendem esse adolescente são despertados pela voz úmida do acaso e, de repente, despertam também para a vida. Claro que depois tudo volta ao normal, você no sono surdo da rotina do Tiête e o adolescente na sua busca por alguém que o entenda.





Mico?

21 05 2008

Bom, é difícil contar isso… Mas vale a pena, vai que eu ganho o livro do Borges da promoção da Grande Abóbora do Marcus (bonito nome esse em!).

Eu tinha 11 anos na época dos fatos e gostava muito de futebol. Sendo assim, me juntei ao time de campo da cidade. Se você não sabe, sou nascido em Ipaussu, uma cidadezinha de 12 mil habitantes do interior de São Paulo. Enquanto eram só treinos, sem problemas, eu corria pelo campo, chutava a bola algumas vezes e ficava por aí. No entanto, houve um campeonato regional e nosso time se inscreveu. Tudo certo, eu não era titular e não precisaria correr o risco de entrar em campo.

Fomos para Piraju se não me falha a memória. Jogaríamos contra um dos times mais fortes da competição. Chegando no campo, várias pessoas pra assistir o evento e eu tranquilo até que o técnico do time olhou pra mim e disse pro amigo dele em alto e bom tom: “Esse aí é filho da Miriam da Caixa, a gente tem que por ele pra jogar”. No interior é assim bitcho, todo mundo sabe quem é quem e se você solta um peido na tua casa o vizinho do outro lado da rua reclama do mal cheiro. Bom, eu olhei pra cara do técnico com um olhar de misericórdia, penso eu que ele não entendeu ou não quis entender. Me escalou como titular…

É claro que não tinha muita gente no campo, mas tinha, várias! Eu tremia feito vara verde, mas  encarei essa tarefa hercúlea. Passado quinze minutos havíamos levado um gol e eu sequer tinha chego perto da bola, o técnico então resolveu, por bem, me substituir. Contudo eu não sabia que quando alguém da banca dos reservas ergue uma placa com o seu número isso significa que você foi substituído… E lá fiquei no campo, correndo pra lá e pra cá até que o juiz parou o jogo, apitou, gritou qualquer coisa pra mim e apontou para o banco de reservas. Eu sem entender nada permaneci no campo pensando que ele tava falando com o carinha que tava do meu lado. E lá ficou o juiz apitando até que perdeu a paciência, chegou perto de mim e me expulsou! Quando eu olhei pro banco dos reservas tava todo mundo rindo, e quando sentei me explicaram o que tinha acontecido… Todo um campo de futebol rindo da minha cara!

Depois desse dia nunca mais fui aos treinos, sequer cheguei perto de um campo de futebol, campo de grama, claro, de salão foi minha próxima tentativa, que também não acabou bem, mas isso eu não preciso comentar aqui, a não ser que você queira! Deixe seus protestos nos comentários, pensarei no seu caso!





Reforma ortográfica

20 05 2008

Dia 19/05/08 foi assinado em Portugal o acordo ortográfico que unificará a língua portuguesa em diversos países lusófonos. No Brasil, como tudo que acontece no Congresso, a implementação da mudança ainda está enrolada. O acordo já foi firmado por mais de 3 países como quer a tal Comunidade de Países de Língua Portuguesa e nada de mudanças por aqui. Se você quiser mais detalhes clique aqui e aqui.

O interessante é notar o inconformismo dos portugueses. Pelo que li, pensam que os brasileiros em geral aprovam e apoiam a tal mudança. Mas pera aí cara-pálida! Os brasileiros mal sabem compreender um texto simples quiçá uma reforma ortográfica inteira… E não param por aí, zombam da nossa maneira de falar! Eu não vou, tal qual o O Andarilho não vai, começar uma guerra Brasil-Portugal, embora deveria, no entanto, após ter lido as mudanças na ortografia, penso que vieram para o bem, pelo menos para o Brasil. Eu NUNCA aprendi como usar a desgraça do trema, nem jamais soube pontuar seguindo regras nojentas de análise sintática, tudo que aprendi foi graças à leitura, jamais graças às, perdõem-me, professoras estúpidas que, virava e mexia, me deixam de recuperção com riscos de repetência. Tudo que elas sabiam fazer era entupir a lousa com obejtos diretos e indiretos, verbos que transitam e toda perda de tempo dos nossos tempos de… “Ensino Médio” né?

Talvez se as mudanças só ocorresem por aqui as coisas fossem mais fáceis, porque se depender dos portugueses vamos voltar a ir para as Pharmácias comprar hervas medicinais.





Um pouco de anarquia

17 05 2008

Bom, esse artigo foi feito pra tentar explicar um pouco dessa teoria “política” que não deixei bem clara no artigo sobre o Surrealismo e a Anarquia, fato esse que pode ter gerado o comentário muito bem vindo da Elizabeth.

Será mesmo que a proposta anarquista era a de ir contra tudo de forma irresponsável sem dar nenhuma contra-partida como solução? A história parece mostrar que não. O fato é que as contribuições anarquistas sobrevivem até hoje, a proposta está, não num plano de governo como fez nosso ilustre Presidente da República para galgar sua posição, mas sim na maneira de pensar de uma sociedade inteira. Exemplo: como você sabe, o ensino até algumas décadas atrás era pautado na “autoridade” do professor sobre o restante da sala de aula. Se alguém desse um pio na hora errada, sua punição flertava com a humilhação até castigos físicos. O respeito professor aluno simplesmente não existia, era uma relação de medo, a meu ver. Você pode pensar: “mas funcionou”. Sim, funcionou tão bem que conseguiram entupir o planeta de poluição, racismo, guerras etc…

A pedagogia libertária, proposta por diversos pensadores da filosofia anarquista, dentre eles Kropotkin, era o inverso de tudo acima citado. A pedagogia libertária pauta-se não na autoridade do medo mas na do respeito mútuo. Respeita-se a autoridade porque ela foi conquistada não imposta. E o que você nota nas salas de aula hoje em dia?

Mas isso é só um dos exemplos do que eu quis citar. Outro é sobre a administração pública. Brasília, ao contrário do resto das cidades brasileiras, não é gerida por um prefeito nem possuí vereadores. A gestão lá é feita por um administrador escolhido pelo governador do Distrito Federal. Sim, mas o que isso tem a ver com o anarquismo? A proposta sempre foi essa, o contrato como forma de gestão da coisa pública. A democracia gera esse efeito de que a “maioria” é quem decide. Sim é verdade, mas e as minorias? Sim, são várias! Para você ter uma idéia, algo em torno de 5 milhões de pessoas anularam seus votos nas últimas eleições presidenciais. Ou seja, essas 5 milhões de pessoas tem sua opinião esmagada pela vontade da “maioria”. E isso não é uma exclusividade democrática, o socialismo conseguiu realizar o mesmo feito com a ditadura do proletariado. No entanto quando a autoridade para se administrar a coisa pública é conquistada e não imposta, talvez o problema possa ter uma solução.

Bom, o artigo ficou longo, eu só quis citar alguns exemplos, se alguém tiver algo a discordar, por favor, comente!





Mês de Salvador Dalí

14 05 2008

Por que… ele teria feito mais um aninho dia 11 passado caso ainda estivesse por aí (mais de cem!). Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, marquês de Púbol, foi pintor, escultor, desenhista, escritor e cineasta… Quer mais? Um dos maiores ícones do Surrealismo, mesmo expulso, merece mais esta menção por aqui.

De um guri que ouviu dos pais que era a reencarnação do irmão ao companheiro de 50 anos de vida pode-se esperar de tudo mesmo, incluindo sua auto-denominação de ser O surrealista. Permitiu-se experimentar tudo. Começou sob influência de Giorgio de Chirico, embalou muitos trabalhos com a Paranóica Crítica defendendo que os quadros deveriam ser fotografias manuais e em cores. Explorou a violência, o erotismo e o mundo onírico em seus trabalhos. Tudo muito forte, cruel, metamorfoseado, tudo como na autodefinição: “espontâneo, de conhecimento irracional baseado na associação interpretativo-crítica dos fenômenos delirantes”. Compreende?

Não foi um artista como os demais, daqueles criadores e só (como se isso fosse um “apenas”!), partindo para outras invencionices depois da 2ª Grande Guerra. Aí ele mais uma vez extrapolou com a arte criando para a moda, publicidade… Inventou móveis, jóias, sapatos musicais, sim, que tocavam enquanto eram calçados, lindo isso.

E quantos grandes homens conhecemos com aquele bigodinho? Apenas um, brilhantemente inserido em sua própria época. Assim foi Diego Velásquez, agora o não menos inquietante John Galliano e o foi Dalí. O Surrealista.

f.

Fonte: http://educacao.uol.com.br/biografias/salvador-dali.jhtm