Um pouco de anarquia

17 05 2008

Bom, esse artigo foi feito pra tentar explicar um pouco dessa teoria “política” que não deixei bem clara no artigo sobre o Surrealismo e a Anarquia, fato esse que pode ter gerado o comentário muito bem vindo da Elizabeth.

Será mesmo que a proposta anarquista era a de ir contra tudo de forma irresponsável sem dar nenhuma contra-partida como solução? A história parece mostrar que não. O fato é que as contribuições anarquistas sobrevivem até hoje, a proposta está, não num plano de governo como fez nosso ilustre Presidente da República para galgar sua posição, mas sim na maneira de pensar de uma sociedade inteira. Exemplo: como você sabe, o ensino até algumas décadas atrás era pautado na “autoridade” do professor sobre o restante da sala de aula. Se alguém desse um pio na hora errada, sua punição flertava com a humilhação até castigos físicos. O respeito professor aluno simplesmente não existia, era uma relação de medo, a meu ver. Você pode pensar: “mas funcionou”. Sim, funcionou tão bem que conseguiram entupir o planeta de poluição, racismo, guerras etc…

A pedagogia libertária, proposta por diversos pensadores da filosofia anarquista, dentre eles Kropotkin, era o inverso de tudo acima citado. A pedagogia libertária pauta-se não na autoridade do medo mas na do respeito mútuo. Respeita-se a autoridade porque ela foi conquistada não imposta. E o que você nota nas salas de aula hoje em dia?

Mas isso é só um dos exemplos do que eu quis citar. Outro é sobre a administração pública. Brasília, ao contrário do resto das cidades brasileiras, não é gerida por um prefeito nem possuí vereadores. A gestão lá é feita por um administrador escolhido pelo governador do Distrito Federal. Sim, mas o que isso tem a ver com o anarquismo? A proposta sempre foi essa, o contrato como forma de gestão da coisa pública. A democracia gera esse efeito de que a “maioria” é quem decide. Sim é verdade, mas e as minorias? Sim, são várias! Para você ter uma idéia, algo em torno de 5 milhões de pessoas anularam seus votos nas últimas eleições presidenciais. Ou seja, essas 5 milhões de pessoas tem sua opinião esmagada pela vontade da “maioria”. E isso não é uma exclusividade democrática, o socialismo conseguiu realizar o mesmo feito com a ditadura do proletariado. No entanto quando a autoridade para se administrar a coisa pública é conquistada e não imposta, talvez o problema possa ter uma solução.

Bom, o artigo ficou longo, eu só quis citar alguns exemplos, se alguém tiver algo a discordar, por favor, comente!





Surrealismo e anarquia

12 05 2008

O surrealismo e a anarquia sempre foram dois irmãos que pouco ou nada se deram bem, dois irmãos que, ao imitar a vida real, poucos caminhos traçaram juntos. Se levado em consideração que nascem dos mesmos ideais e forma de pensar, não há explicação que justifique essa separação.

Em uma breve síntese, a anarquia se propôs a ser, diferentemente de tudo que havia até então, um movimento contrário à qualquer forma de dominação do homem pelo homem, era contra tudo e mais um pouco, desde a escola até o próprio Estado. Não tinham portanto uma organização partidária como todo movimento político revolucionário o tinha, não se inseriam nos aparelhos do Estado justamente por desconsiderarem o Estado como forma de alcance do bem comum. Já o surrealismo foi a anarquia das artes, a proposta era a de abolir a razão como norte da criação, abolir as regras e qualquer outra coisa que pudesse impedir o processo criativo das pessoas. O surrealismo queria se tornar a arte dos que não sabiam arte, a arte dos que não eram gênios. Com o legado de Freud, entenderam que o subconsciente era muito poderoso e rico para ser ignorado.

No entanto, essas duas correntes do pensamento humano por pouco tempo caminharam lado a lado. Essa união se materializou de fato com as publicações dos artistas surrealistas de então no jornal anarquista Le Libertaire. Tais publicações ficaram conhecidas como os boletins surrealistas e não havia outro lugar para elas, na Terra, senão no Libertaire. A opinião surrealista é clara, André Breton deixa mais do que expresso seu viés anárquico no boletim de 11 de janeiro de 1952 entitulado A Clara Torre, não obstante sua adesão ao partido comunista e posterior aliança com Trotski. Chega a se perguntar porque, em 25 anos, a união dos surrealistas e anarquistas ainda não foi possível. E é bom ressaltar que Breton era algo como um arauto do surrealismo. Não só ele, em diversos outros boletins o pensamento surrealista parece se enquadrar na ideologia anarquista e vice-versa.

Mas parece que tudo aconteceu para não dar certo, os anarquistas não viam nos surrealistas companheiros politicamente engajados, a visão que tinham dos surrealistas era algo como uma bizarrice sem sentido e a ruptura da colaboração surrealista no Libertaire não tardou em chegar. Após um ano e poucos meses de inúmeras publicações, a ruptura veio com a assinatura de Serge Nin, representando os velhos militantes da anarquia e editores do Libertaire.

Geraram frutos? Talvez sim, talvez não tenha passado de uma troca inaudita de experiências, o que importa é que depois disso muito pouco do surrealismo se viu no movimento anarquista. É claro que alguns poucos se aventuraram em outros planos e projetos anarquistas, no entanto, nada sólido o suficiente para que fosse lembrado até hoje.

Esse artigo faz parte da postagem coletiva Blogueiro Repórter. Eu não publico a fonte porque é secreta mas as informações aqui contidas estão de total acordo com o conteúdo publicado pelo Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-graduados em ciências sociais da PUC-SP, o Nu-Sol.

Surrealismo e anarquia by Marcus Vinicius Boaçalhe is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.





Chaiquispier anarquista

20 04 2008

Que o casamento de duas almas não seja posto a prova pelo mar bravo de nossos tempos. Porque o amor de hoje é tão rápido quanto àquela estrela-guia que sumiu sem mais nem menos, sem deixar vestígios pros que ainda pensam ser amantes eternos… Porque se me achas um mentiroso por escrever o que escrevo, nenhum homem jamais tomou um pé na bunda ou eu sequer me apaixonei de novo!

Até que as estreals caiam do céu, pra mim e pra ti. Até que a música acabe. Até que os bebês de leite sejam enterrados na areia.

Me ame duas vezes. Me ame até até que os 7 cavalos do sonho azul passem pela janela. Me ame mil vezes, como nunca tenha feito.

Os ventos de inverno esfriam o país inteiro. Os ventos de inverno… mas você deve ser tão quente, vinda do sul como a tempestade do século.

E diga a todos que encontrarem, diga a todo mundo! Deixe-os livres, diga a eles para correrem, diga a todos! Me pegue pela mão, vamos enterrar nossos problemas na praia.