Eu que fiz!
Eu que fiz!
Esses dias no Jô um dos entrevistados foi o jornalista Marcos Losekann, o correspondente global em Israel. Veio para o Brasil para o lançamento de sua trilogia Entrevista com Deus, inspirada em fatos reais ou não. O livro, mui supercialmente explicado por ele, conta a história de um jornalista ateu que, ao final da narrativa, tem plena certeza de ter entrevistado o Pai eterno, sendo o grande mote do livro a dúvida sobre a realidade dessa entrevista.
No meio de sua entrevista para o gordo mais conhecido do Brasil, Losekann diz não ser ateu, que no meio jornalístico ser ateu é visto pelos outros jornalistas como conditio sine qua non para se tornar um bom jornalista e que isso o irritava. Daí disse qualquer bobagem para provar a existência de Deus.
Uma coisa é verdade, a maioria dos ateus considera os que tem alguma religião pessoas intelectualmente inferiores. Uma porque leram a bíblia com mais afinco que qualquer pastor de merda. Outra porqe leram o Anticristo do Niezstche e se consideram tão ou mais “espíritos livres” que o próprio autor.
Existem dezenas de casos que poderiam comprovar a tese número um, de que traças de bíblia são realmente muito burros, como esse:
O fato é que o ateísmo, embora parece o contrário, cresce e muitos se sentem envergonhados de assumir que acreditam em alguma coisa. Ser católico por exemplo pode dar a entender que você não se importa com os padres pedófilos, que você não usa camisinha, não trepa antes do casamento nem é a favor das pesquisas com células tronco. Ser evangélico protestante passa a imagem de que você é um tonto que entope o rabo dos pastores com o dinheiro ganho a duras penas.
A melhor escolha parece ser adotar uma religião oriental. Até onde sei eles não tem problema com homossexualismo e dinheiro é a última coisa que querem (vide a vida asceta que os monges budistas têm). Nunca soube de uma guerra que tivesse começado por parte de budistas ou hindus, tampouco os vi condenarem qualquer atitude do ser humano (nem cigarro eles criticam).
O lado bom dos ateus é que sempre estão dispostos a uma boa e inútil discussão com quem quer que seja. Em suma, acreditar em alguma coisa deveria ser encorajado, afinal de contas você não quer que a Hebe tenha pena de você por não ter Deus no coração…
A vanguarda surrealista preferiu excluir Deus de seus trabalhos por diversos motivos, no entanto Dalí era católico apostólico romano, dos fervorosos. A arte sempre esteve lado a lado com a religião, um bom exemplo é a Última Ceia do tão discutido e aclamado Da Vinci. Em suma, quer ser ateu? Lembre-se que existem bilhões (literalmente) de pessoas que acreditam nalguma coisa, seja ela qual for, até no “Fluído” como diria um antigo professor…
Pintura original aqui. Sabe me explicar esse post dos Irmãos Brain?
Eu não vou dar nenhum quadro, então não se iluda. Talvez eu nunca consiga comprar uma obra original, o preço é alto demais para os meus pobres padrões de vida… Aliás, muita gente jamais vai botar os olhos num original, museus brasileiros não são muito fãs do surrealismo.
Mas eu quero saber, se você pudesse, compraria uma cópia? Eu tenho um Magritte, o famoso Mnazna.
Se eu pudesse eu teria mil! Da pra ver minha cara feliz aí? Será que tem mais gente que pinta cópias? Qual será o valor?
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Professora ou professor do meu Brasil varonil, eu não faço a menor idéia em que série a gente aprende sobre surrealismo, o que eu sei é que tudo que aprendi sobre foi com minhas pesquisas, leituras e visitas a museus. Mas parecem que resolveram ensinar nas escolas, então não perca a oportunidade de ensinar essa mulecada o valor real do surrealismo.
Lição 1 – Não supervalorize Salvador Dalí. O surrealismo foi muito além do que o bigodudo aí fez, claro que deixá-lo de lado não é uma escolha. Mostre suas telas, mostre suas singularidades mas não deixe o homem superar a obra, Dalí foi um dentre vários. Não esqueça de levar o perfume…
Lição 2 – Diferentemente das outras expressões artísticas, o surrealismo não se importa do que vão pensar das suas telas. Sendo assim, cuidado ao mostrar uma onde a virgem espanca o menino Jesus. Os pais e responsáveis podem ficar putos e uma demissão pode vir a acontecer.
Lição 3 – Surrealismo não é só pintura. Vale a pena dar uma lida no Manifesto escrito por Breton, tanto pela parte histórica quanto pelo significado do movimento. Sim, é um pouco extenso e de vez em quando chato, nada que tenha matado alguém entretanto.
Lição 4 – Mostre o filme Um cão andaluz. Como eu disse, o surrealismo foi além da pintura. O filme é ótimo, algumas cenas são imprórias, admito, mas nada tão violento quanto o PicaPau ou o Frajola. É preto e branco, sem som, completamente nonsense, mas é mais do que uma aula de surrealismo, além de ser de pouca duração. Caso não o tenha disponível, aí vai o link para download: Um cão andaluz. O filme foi dirigido por Luis Buñuel e o próprio ícone, Salvador Dalí. De qualquer forma é melhor assistir antes de mostrar pra galerinha…
Lição 5 – Vanguarda é completamente diferente de chefia. Afinal de contas Breton nunca cobrou aluguel dos artistas por entupirem seu apartamento, não ganhou nenhum dinheiro significativo, nem se promoveu a tal ponto. Vanguardas estavam um passo a frente na cultura artística de sua época e por isso se posicionavam no pelotão de frente. Já a vanguarda surrealista, diferentemente do que propõe os wikipedistas, não se considerava a detentora da verdade, porém chegou a expulsar membros que não seguiam a linha “imposta” ao resto dos “militantes”.
Lição 6 – Kafka. Embora a maioria dos chatos literatos brasileiros não enxerguem em Kafka um potencial surrealista, na minha opinião A Metamorfose está muito perto disso. Um ser que se transforma num barata, a única explicação é essa: surrealismo.
Lição 7 – Miró. Se tudo isso parecer um pouco chato, nada melhor do que mostrar algumas telas, certo? E por que não Miró? Seus quadros são os que possuem aquela coisa lúdica mais implícita, duvido que uma criança ou adolescente não goste…
Lição 8 – Créditos. Diga que viu essas lições aqui, no Surrealismo do Acaso!
Lição 9 – Museus. Obviamente leve seus aluninhos ao museu! *
*Thank´s to Incautos do ontem!
Aulas de português geralmente são maçantes (maça de bater, aquela arma, não massa de bolo ou de pão), no entanto, certos professores conseguem prender a atenção dos alunos com certas explicações sobre nossa tão difusa língua. Como você sabe ou pelo menos deve imaginar, o português brasileiro não é igual em todas as regiões do país. Ter uma unificação total da língua em um país tão grande é tarefa sísifica digna de um Hércules erudito do século XXI. E isso é bom, minto, isso é ótimo, essa diversificação cultural ao invés de ser combatida como acontece hoje em dia deveria, na realidade, ser incentivada, explico mais adiante.
O nordeste de nosso país tem uma forma de se utilizar do português muito característica, não só quanto a linguagem oral, mas na escrita também. Enquanto que no sul e sudeste do país os artigos a e o antes da preposição de são sempre utilizados, no nordeste esse tipo de uso é completamente inusual. Exemplifico: Sul e Sudeste -> Vou na casa da Maria; Nordeste -> Vou na casa de Maria. Pode parecer pouca coisa, mas esse tipo de frase consegue ser uma das mais utilizadas em conversas informais e bate-papos. Bom, a coisa não para por aí e, para deixar mais clara essa diversificação, nada melhor do que uma pequeno comentário sobre os sotaques.
A história mostra que, principalmente nas regiões sudeste e sul, a imigração européia (e aqui leia-se espanhóis, italianos, alemães, franceses etc) foi a que teve maior influência nas partes sul da região sudeste e norte do sul. Tanto é assim que, no interior de São Paulo meu o sotaque é ultra-carregado no R, ou seja, uma clara caractéristica da língua inglesa que inluenciou meu o sotaque carregadão no R (foram os ingleses que lotearam boa parte das terras nessa região, Londrina é uma bela prova dessa característica). Já no nordeste a coisa foi diferente, devido aos ciclos que ocorriam no Brasil, a população de lá pouco ou nada foi influenciada por essa imigração européia, ou seja, a população se constituía basicamente de portugueses, negros africanos usurpados de sua terra para se tornarem escravos nas lavouras do Brasil e índios. Ou seja, conclui-se que o português de lá teve sua maior influência dada pelos índios e negros.
E então me aparecem com essa tal de reforma da língua portuguesa, imposta, mal digerida e porcamente explicada. Não sou daqueles que implicam com mudanças, muito menos vai fazer muita diferença na minha vida, nunca usei o malfadado trema quiçá soube pra que servia. Mas o acaso vem a galope, me pego a ler uma crítica do que se disse silenciado, que aponta o naciolismo no surrealismo tupiniquim. E ainda se acha perto de classificar alguma coisa que, com certeza, não faz nem idéia do que é, em essência. Por fim, pelo que entendi, faz uma tradução de Lenin, que isso companheiro?
Em resumo, cansei de perder meu tempo com os mimimi´s dessa mudança, quer falar sobre surrealismo, surpresa, estamos abertos novamente! E tenho dito!
E para não dizer que não falei (mal), da reforma ortográfica, me lanço agora a esta árdua tarefa. Do alto dos meus tantos anos de português, que agora posso chamar de antigo, ultrapassado, reformado, mal fadado, posso dizer que mais aprendi por osmoze que pela dedicação aos livros da escola. Embora não seja adepta do internetês, o esperanto que “deu certo”, (sou obrigada a conviver com esta língua incontáveis vezes ao dia), sigo escrevendo legilvelmente, digo inteligivelmente, e vez ou outra usando alguma palavrinha chocante aos cérebros mais “sensíveis”. Eu gosto disso. Não pelo desentendimento, mas pelo uso. Existem palavras tão charmosas quanto os anos 20 e são esquecidas, confundidas e pior, assassinadas, como vemos acontecer e nem por isso as pessoas ficam chocadas. Aliás, não sei o por que essa admiração pois, nada é chocante enquanto não for conhecido. E repito, conhecido, não apenas sabido. Acredito que a maioria das pessoas ficam preocupadas com a reforma pelo temor de se verem obrigadas a rever sua grafia, nada mais. É apenas o medo da obrigação, um incômodo sem fundamento. Nisso concordo. Qual é a legitimidade de tal acontecimento? Claro, que esquecimento o meu, neste mundo globalizado falar o mesmo idioma é básico. Então fico me perguntando, por que então não definimos alguma língua dominante para ser o idioma universal. Assim todos falariam da mesma forma. Certo? Mais errado do que nunca. Jamais falaremos a mesma língua, mesmo utilizando a mesma ortografia. Pense bem, qual é a chance que tenho em escrever tal como um europeu ou um africano? Essas correções estapafúrdias não farão essa diferença, a não ser nos cofres.Qualquer reforma custa dinheiro e isso todos sabem. Um outro bom motivo para a reforma: aproximar os países que falam este belo idioma em que vos escrevo. Sim, “temos” – nós? Brasileiros pacífico-preguiçosos – que fazer Portugal engolir alguma coisa, afinal, fomos colonizados, surrupiados por eles até a medula, sofremos até hoje as demências, melhor dizendo a cretinice de um povo que tem um sistema moribundo sempre em busca de muletas para amparar a próxima campanha eleitoral, enquanto nós brasileiros pacífico-ilusionistas vamos caminhando e cantando, sem conhecer a canção, aceitando esmolas. Esmolas pagas! Se aqui no Brasil temos que engolir, como bons brasileiros pacífico-acomodados (olha o hífen!), toda esta fanfarra, com prazo final para que todos estejam já utilizando do novíssimo idioma, nos demais países a coisa anda um pouco diferente e já ouvi muitos se perguntando: e se Portugal não aceitar? Pois bem, que não aceite! Imagine a cena. Agora faço até mais que um minuto de silêncio (não mental), em que imagino a cara que não conheço dos sabichões que encabeçam a reforma. E dos outros milhões que estão pagando. Voltaríamos ao nosso “antigo” idioma? Ou a tão empenhada campanha de aproximação tornaria maior ainda o abismo que nos separam? – Em tempo, nada falaram dos clichês. Céus que me protejam de provas e trabalhos sob a nova ortografia. Diminui-se os acentos, aumentam-se os porques e eu ainda nem sei usar os quatro existentes.
Jogadinha: Eu gosto muito de gatos.
Esse gato tem pêlos brancos e bosques cheios de neve pela frente. Um longo caminho. Eu gosto muito de gatos.
Esse gato tem pelos brancos bosques cheios de neve pela frente, um longo caminho.
Eu realmente gosto da língua portuguesa e dos brasileiros. Este texto não foi escrito em português culto, nem reformado.
f.
Mulheres em piromancia
rabiscam destino e vislumbram a manhã
sedento de sonho abro meus olhos
e risco no ar o destino do peito amado
dentre todas os astros escolhi o meu rei
ou por ele fui alçada até mais alto céu
a pedra rolada assinala o caminho
da mão que transforma a flor em perfume
e o sol queima a tez sedenta de luz
das trevas a mais tênue luz sobressai
e por ela posso guiar-me nas sombras
um filete de vida extrapola num dia
o cruzar do tempo imortal
homens meninos dançando
em pura alegria giram
na piromancia
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Permitiu-se tudo, de homem
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Surpreendente seu modo de ser
traumático
expondo os segredos do banheiro
em cartões deixados pelo chão
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É ou não é surreal?
Duas coisas descubro todos os dias que gosto ainda mais: o surrealismo e o Huun-Hurr-Tu, um grupo da Mongólia que me foi apresentado a pouco tempo. Aliás, tudo converge a uma outra paixão,
Cancelado… continua. Fazer filme. Ver como gravar no Youtube. Usar o arquivo do Movie Player.
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Não querendo transformar o Surrealismo do Acaso em um blog de moda, mas dando uma puxadinha na sardinha, tenho uns sapatos interessantes para mostrar. Muitos são famosos, como os inacreditáveis sapatos de lótus chineses, outros, menos citados e nem por isso deixam de ser surreais.
Aliás, histórias sobre sapatos são bárbaras…cada modelo tem uma função por mais absurda que seja – isso não se aplica muito nos modelos contemporâneos – e tudo documentado. Pra quem quiser saber que por exemplo na …as mulheres usavam os sapatos …por…e…
Continuando nessa linha temos o…
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Jean-Louis Bédouin; Robert Benayoun; André Breton; Roland Brudieux; Adrien Dax; Guy Doumayrou; Jacqueline et Jean-Pierre Duprey; Jean Ferry; Georges Goldfayn; Alain Lebreton; Gerard Legrand; Jehan Mayoux; Benjamin Péret; Bernard Roger; Anne Sghers; Jean Schuster; Clovis Trouille e seus camaradas estrangeiros atualmente em Paris.
Le Libertaire, 12 de outubro de 1951
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Sur mes cahiers d’écolier
(…)
Et par le pouvoir d’un mot Liberté. |
Paul Éluard |
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E assim terminam os começos.
C.
DOIS MIL PELES VERMELHAS
Para eles
o tempo existe
em estado abolido
Dois mil peles-vermelhas se abaixam
na planície
felizes de sua ventura
preludiam as sublimidades de suas danças
Eles tragam os dias
tumultuam as noites
Dois mil peles-vermelhas e lúcidos
se preparam para fazer rir a chuva
suas terras enrugadas pelo desejo e pela fome
fazem bater seus tambores a sons plenos
Sons
plenos
Dois mil peles-vermelhas amorosos
se preparam para misturar seu sangue inquieto
ao leite sombrio de suas mulheres muito calmas
ao mel ridente de suas belas crianças
Crianças do século
onde estão vossos tridentes
Dois mil peles-vermelhas
pálidos mas sólidos
deixam as famílias para morrerem à parte
Dez mil peles-vermelhas
o sangue em fogo
sua vida ainda está lá
em busca de demônios
SETE MICRÓBIOS VISTOS ATRAVÉS DE UM TEMPERAMENTO (1953)
Max Ernst – Criador da “colagem” surrealista em 1919 com a qual impressionou Breton, foi expulso do movimento em 1954 por aceitar o Grande Prêmio de Pintura da Bienal de Veneza.
Fonte: Os arcanos da poesia surrealista – Seleção de José Pierre e Jean Schuster com tradução de Antônio Houaiss. Editora Brasiliense.
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