Acasos

21 05 2008

Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento no sol de quase dezembro… Eu vou!

Eu não sou nenhum pouco fã do Veloso, pelo contrário. Mas esse pedaço de música é a materialização do acaso, é a explicação mais simples do acaso. A rotina é surda, embora os acasos sempre estejam presentes nela, só alguns tipos dele possuem o poder de se infiltrar nos nossos sentidos. A rotina é como o rio Tiête para os paulistanos, fede pra caralho mas eles não conseguem evitar passar por ele… Já o acaso é algo como uma nuvem cinza-escuro que, depois da trovada, faz descer a água mais limpa e clara que o planeta pode produzir. É como Voltaire diria: “Se não encontrarmos nada agradável, ao menos devemos encontrar algo novo”.

O acaso não quer ser percebido, ele é como um adolescente de 15 anos, sem casa nem família, cheio de espinhas na cara. Faz de tudo pra esconder aquilo que o torna especial, seja duma maneira boa ou ruim. Aqueles que entendem esse adolescente são despertados pela voz úmida do acaso e, de repente, despertam também para a vida. Claro que depois tudo volta ao normal, você no sono surdo da rotina do Tiête e o adolescente na sua busca por alguém que o entenda.





Ensaio de poesia

16 05 2008

Seres

metafícos sentimentos

do mar revolto a sereia grita

a aguda dor do náufrago resgatado

____

Surpreendente seu modo de ser

traumático

expondo os segredos do banheiro

em cartões deixados no chão

(v1)

_____

Estranho é pensar em você

com toda crueza do ser

que se desmancha em mundanismos

e lembra que te amo com pequenas lembranças

em gotas de amor

espalhadas pelo chão privado

(v2)

______

Delicadezas de fora

percussão interior

esse sou eu

feio e decrépito

espalhadamente atordoado em cachos

desfeitos

fingidos

roubando restos de um jantar perdido

epistolando minha vida

vou e só

fico

ali sem nada mais a resgatar

se não um montículo de vermes esgueirados de entranhas alheias

pensamentos… sobras de pensamentos.

f.