Blogagem Coletiva – Abre Aspas

28 04 2008

Devido aos inúmeros reparos no Surrealismo do Acaso, minha participação vai ter que se limitar a algumas poucas poesias… Mais informações e demais participantes podem ser encontrados no Acqua! As postagens estão bem interessantes, vale a pena conferir!

Cabeça de fauno
Autor: Arthur Rimbaud

Na folhagem, estojo verde de ouro manchado
Na folhagem incerta e florida
De esplêndidas flores onde o beijo dorme,
Vivo e rasgado o precioso bordado,

    Um fauno assustado mostra os seus olhos
    E morde as flores vermelhas com seus dentes brancos.
    Moreno e sangrento como um vinho velho
    O seu lábio estoura em risos sob os galhos.

      E quando fugiu – feito um esquilo –
      O seu riso treme ainda em cada folha,
      E vê-se amedrontado por um grilo
      O Beijo de ouro do Bosque, que se recolhe.

          A uma dama crioula
          Autor: Charles Baudelaire

          No país perfumado, a um sol de fogo e pena,
          Conheci sob dossel de árvores purpurado,
          E de palmas de onde o ócio ao nosso olhar acena,
          Uma dama crioula de encanto ignorado.

            De tez pálida e quente, a mágica morena
            Tem no seu colo um ar, nobremente requintado;
            Vai como a caçadora e é imponente e serena,
            Seu sorriso é tranquilo e seu olhar ousado.

              E se ao país da glória, Senhora, fôsseis visitar,
              Junto ao Sena ou junto ao Loire,
              Digna de ornar mansão de antigos minuetos.

                Farias, ao abrigo de sombras secretas,
                Brotarem mil canções no coração dos poetas
                Feitos por teu olhar mais servos que os teus pretos.

                    Sensação
                    Autor: Arthur Rimbaud

                    Pelas noites azuis de verão, irei em atalhos sob a lua,
                    Picotado pelos trigos, pisar a grama pequena:
                    Sonhador, sentirei nos pés o frescor que acena.
                    Deixarei o vento banhar minha cabeça nua.

                      Não falarei, não pensarei em nada sequer:
                      Mas me subirá na alma o amor soberano,
                      E irei longe, bem longe, feito um cigano,
                      Pela Natureza – feliz como se estivesse com uma mulher.

                          Alquimia da dor
                          Autor: Charles Baudelaire

                          Um te ilumina com seu ardor,
                          Natureza, e outro faz-te obscura!
                          O que diz a um: Sepultura!
                          Diz a outro: Vida e esplendor!

                            Hermes e ignoto que me assistes
                            E que sempre me intimidas,
                            Tu me fazes igual a Midas,
                            Triste entre os alquimistas tristes;

                              Por ti eu transformo o outro em ferro
                              Do paraíso faço inferno;
                              E, pela mortalha dos céus

                                Descubro um cadáver amado,
                                E no celeste descampado
                                Construo grandes mausoléus.

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